terça-feira, 22 de setembro de 2009

Análise marxista

O texto que publicamos abaixo é de autoria do espanhol Jose Maria Rodriguez, estudioso de assuntos chineses. No texto, José Maria Rodríguez expõem de maneira bastante simples, porém, não menos interessante, o que foi o fenomeno que na China ficou conhecido como "Grande Revolução Cultural Proletária" e suas consequências na Espanha. Também explica o que significou a política de Reforma e Abertura e o impacto da mesma no movimento comunista chinês.



ALGUMAS LIÇÕES DA “REVOLUÇÃO CULTURAL”





No ano de 1966, na China, se desencadeia a “Grande Revolução Cultural Proletária” que duraria na prática até 1976. Esse acontecimento teve uma enorme repercussão, não somente na China, mas também em todo o hemisfério ocidental. Igualmente muitos comunistas chineses liderados por Mao Zedong, muitos comunistas no ocidente estavam muito descontentes pelo fato das graves acusações de Kruschev contra Stálin, depois da morte do líder soviético. Para uma parte minoritária daqueles que militavam em organizações comunistas na Espanha, a revolução cultural na China significava um “basta” contra os desvios do marxismo-leninismo da nova direção de Kruschev.

Também era um insulto inaceitável ao marxismo-leninismo a unidade ideológica entre a nova direção soviética e o imperialismo estadosunidense contra o dirigente máximo da vitória contra o nazismo, Josef Stálin (Convém dizer que, na Espanha, durante a ditadura terrorista de Franco, os anarquistas e trotskistas, tão abundantes hoje em dia, praticamente não existiam).

Na Espanha, um dos motivos principais do descontentamento era a política de colaboração com a oligarquia adotada pela direção do PCE, dirigido por Santiago Carrillo, que defendia a reforma da ditadura do capital monopolista. Porém, a grande maioria do movimento comunista ocidental, e espanhol, continuou ao lado da nova direção soviética, nascendo daí o chamado “eurocomunismo” e, depois da chegada do poder de Brezhnev, os chamados partidos “pró-soviéticos”.

O “GRANDE SALTO À FRENTE”



cartaz de propaganda do Grande Salto à Frente, 1959.


Ainda que a revolução cultural chinesa tivesse características mais destrutivas e prolongadas, ela teve um antecedente: o “Grande salto à frente”. Este foi um movimento que durou dois anos e tinha como objetivo principal desenvolver a produção, especialmente a de aço na industria e produtos agrícolas no campo. Seus resultados práticos foram um fracasso. Houve um grande aumento na produção de aço, porém a grande parte era de qualidade muito baixa. O aço era fabricado por todas as partes, cidades, povoados e comunas, chegando a se mesclar diferentes metais em fornos caseiros durante o processo de fundição. Esse foi o motivo de boa parte do aço produzido ser de má qualidade.

No campo se levou a cabo a coletivização e para aumentar a produção se teve a idéia de matar pássaros, para evitar que se comessem as sementes. Porém, tal iniciativa gerou uma baixa espetacular na produção agrícola de 1959, devido ao fato de que ao diminuir a grande quantidade de pássaros, aumentou significativamente a grande quantidade de insetos que provocaram enormes perdas (juntamente com o tempo dedicado pelos camponeses para se criar fornos caseiros para fundição do ferro).

O fracasso do “Grande salto à frente” fez com que Mao fizesse uma relativa autocrítica e assim se afastou da sua jornada diária de trabalho no governo, dando espaço para Liu Shaochi e Deng Xiaoping. Mao Zedong reaparece na vida política chinesa, após a eclosão da revolução cultura, em 1966 e todos que restauraram a ordem social e restabeleceram a política de crescimento econômico foram eliminados politicamente.

A “GRANDE REVOLUÇÃO CULTURAL PROLETÁRIA”

A Revolução Cultural chinesa considerava que para evitar o perigo da restauração capitalista no país, que Mao Zedong via como inevitável na URSS, era necessário continuar considerando a luta de classes como a tarefa central. Portanto, os comunistas chineses teriam que continuar com o processo de agitação e propaganda, da educação ideológica da revolução proletária e eliminar os seguidores do “caminho capitalista” dentro do partido e da sociedade. Além disso, se considerava que no futuro deveria haver mais revoluções, para que se evitasse a restauração. Por um lado, no decorrer da revolução cultural, adquirindo um especial protagonismo estava Lin Biao, que fora elegido pelo próprio Mao como seu sucessor. Lin Biao foi o editor principal do conhecido Livro Vermelho e mais tarde tentou afastar Mao do poder. Os planos do golpe de estado de Lin Biao foram descobertos e o dirigente acabou morrendo em um desastre de avião, quando tentava fugir para a URSS. No outro lado do tabuleiro, estava o chamado “bando dos quatro” (segundo definição do próprio Mao em meados da década de 70) formado pela esposa de Mao (Jiang Qing) e outros três dirigentes (Zhang Chunqiao, Wang Hongwen e Yao Wenyuan).


Julgamento do "Bando dos Quatro", 1980

Lin Biao e o bando dos quatro criaram um ambiente de fanatismo em torno da figura de Mao, estimulando o culto feudal a sua pessoa, dotando-o de uma suposta infalibilidade divina. O bando dos quatro chegou a formular a tese antimarxista dos “dois todos” formulada no editorial chamado “Estudar bem os documentos e aprender o principal”: “Devemos defender com firmeza tudo o que seja uma decisão tomada pelo Presidente Mao e seguir invariavelmente tudo o que seja uma instrução dada por ele”.

Ao mesmo tempo, consideravam que “é preferível ser vermelho do que ser especialista”, “é preferível ser trabalhador sem cultura”, “possuir mais conhecimentos é ser reacionário” e rotularam como “inimigos número um” e “intelectuais burgueses” os intelectuais, artistas, técnicos, cientistas e enviaram grande quantidade deles para trabalhar em campos de reeducação, fazendo retroceder o nível da ciência, da tecnologia e da cultura em toda a China.

Durante a revolução cultural se impulsionou o sistema de distribuição baseado no “igualitarismo” de “comer todos de uma mesma panela”, se eliminou de fato a autoridade das organizações do partido suplantando-as com as decisões dos “comitês revolucionários” e os “guarda vermelhos”, se eliminou a autoridade hierárquica substituindo-a com “mobilizações revolucionárias das massas” e se elogiou o chamado “comunismo dos pobres”.

Como conseqüência de tudo isso, muitos comunistas e pessoas das massas foram rotulados como “contra-revolucionárias” e foram vítimas de repressões arbitrárias.

O SOCIALISMO COM CARACTERÍSTICAS CHINESAS

Somente o socialismo pode salvar a China, somente o socialismo pode desenvolver a China, 1989


No dia 4 de abril de 1976, três meses depois do falecimento de Zhou Enlai, teve lugar em Beijing e em outras cidades do país, um movimento de massas em memória de Zhou, em protesto contra o bando dos quatro e contra as críticas à Deng Xiaoping. A repressão do bando dos quatro originou uma grande concentração de manifestantes na Praça da Paz de Tienanmen, que apesar de ter sido qualificada por Mao de “incidente contra-revolucionário”, assentou as bases para a liquidação do bando dos quatro e do final da revolução cultural.

Em dezembro de 1978, na III Sessão plenária do XI Comitê Central assentou as bases teóricas e práticas decisivas para iniciar o processo de reforma e abertura e da construção do socialismo com características chinesas. A partir dessa sessão histórica nos anos seguintes foram tomadas as seguintes medidas:

O centro da atividade do partido e do governo passa a ser as quatro modernizações da agricultura, indústria, tecnologia e defesa, guiados pelos quatro princípios fundamentais (persistir no caminho socialista, persistir na ditadura do proletariado, persistir na direção do Partido Comunista e persistir no marxismo-leninismo e no pensamento de Mao Zedong).

Foi descartada a idéia que a luta de classes e uma nova revolução fossem as tarefas centrais, por ser uma idéia contraditória com o caráter socialista da realidade da China e do marxismo. Uma vez tomado o poder a contradição principal passa a ser entre o débil e limitado desenvolvimento das forças produtivas e a crescente demanda das massas populares.

Restaurou-se a direção do partido e a disciplina hierárquica no exército, considerando como anarquismo as tentativas de substitui-lás por comitês paralelos ou “mobilizações de massas” e “dazibaos”. Se restauraram as pessoas e dirigentes vitimas da repressão arbitrária durante a revolução cultural.

Descartou-se o “igualitarismo” de “comer todos de uma mesma panela” por ser um critério de distribuição alheio, tanto com a fase socialista (cada um segundo seu trabalho), quanto à fase comunista (a cada um segundo suas necessidades). Determinou-se que a China se encontrava na fase primária do socialismo e que dita fase poderia durar 100 anos desde a fundação da República Popular. Sobre essa base se estabeleceu o sistema de distribuição de aplicação prática, concreta, de cada um segundo o desenvolvimento das forças produtivas e não sobre a base de sua posição político-ideológica. Tendo em conta o grande peso de milhares de anos de feudalismo na sociedade chinesa, se impulsionou os investimentos estrangeiros, a existência do setor privado da economia para estimular a competitividade e a iniciativa, como complemento necessário, estimulo da coluna vertebral da economia estatal e pública socialista.

Se deixou de lado o conceito de “comunismo dos pobres” por considerá-lo incompátivel com o marxismo-leninismo e o pensamento de Mao Zedong. A sociedade comunista é o contrário da pobresa, pois presupoem uma grande riqueza material e espiritual da sociedade. A sociedade socialista, para avançar, precisa atender as necessidades materiais e espirituais das massas, assim como eliminar com relativa rapidez a pobreza e escasez herdados do velho sistema social.

No terreno ideológico, os chineses deixaram de lado pronunciamentos teóricos a margem da prática e do desenvolvimento das forças produtivas, passando a considerá-los como estranhos ao marxismo e as necessidades das massas da China. Se combateu, como algo próprio do feudalismo, o culto as pessoas, mesmo quando muito eminentes, e ao fanatismo e patriarcalismo. Se assumiu que a educação ideológica, para que as massas façam do socialismo algo seu, só possui eficácia na medida que ela venha acompanhada pelo desenvolvimento material, para eliminação da pobreza e da escaçez.

Com relação a Mao Zedong, se fez uma avaliação de 70% positivo e 30% negativo, considerando que o pensamento de Mao Zedong prevalece sobre os erros de seus últimos anos de vida. Se estabeleceu que um dos motivos essenciais dos ditos erros de Mao, foram o longo periodo e vários séculos de feudalismo na China, como consequência do culto fanático a sua pessoa permitido por ele, e as atitudes patriarcais, na qual originou o seu distanciamento da realidade objetiva, das massas e das suas necessidades reais. A eleição pessoal de seus sucessores, como Lin Biao e Hua Guofeng, seria uma prática típica do feudalismo, inferior inclusive, ao capitalismo.

O pensamento de Mao Zedong representa todo o correto que fez em sua vida, especialmente a aplicação e o desenvolvimento do marxismo-leninismo de acordo com as características chinesas, nos terrenos do caráter da revolução chinesa, que possibilitou a tomada do poder, e o afastamento da supremacia do imperialismo e do feudalismo; a estratégica-tática com a sucessiva política de alianças; da filosofia, especialmente a existência universal da contradição em seus diferentes níveis; a relação entre prática e teoria , e o desenvolvimento do conceito marxista do conhecimento, que se baseia na busca da verdade nos fatos; e a política internacional sobre a base da teoria dos 3 mundos. Os erros de Mao nos últimos anos de sua vida estavam em completa contradição com o Pensamento de Mao Zedong.

Tendo em vista que o feudalismo é uma etapa histórica anterior e inferior ao capitalismo, se considerou que era errôneo tentar virar a roda da história, ao preferirem a pobreza e a ociosidade (o comunismo primitivo e o “bando dos quatro”) do que a criação de empresas competitivas exigentes, como uma moderna gestão e produção. Nesse sentido, a existência de determinadas formas capitalistas submetidas a coluna vertebral estatal e pública do estado socialista, na China, seria inevitável no processo histórico, até eliminar todo o vestigio de feudalismo e consolidar a modernização. A existência de empresários do setor privado em países socialistas como China e Vietnã, durante todo esse período, não supoem a existência da burguesia como classe, na medida que não podem realizar atividades contrárias ao estado socialista, nem podem controlar o sistema financeiro, nem a economia central da nação. Em todo o caso é preferivel ter a existência desse setor privado, do que metade do terreno cultivavel no campo, parado, sem utilização, como ocorria em Cuba e está se retificando agora.

A apropriação privada da mais-valía não se realiza somente no marco de empresas e empresários privados. Ocorre com mais intensidade sob sistema de distribuição “igualitárioo” de “comer todos de uma mesma panela” da “revolução cultural”. Quem não trabalha se apropria da mais-valía de quem trabalha. Quem trabalha menos se apropria da mais-valía de quem trabalha mais. Com o agravante de que no final, o resultado de tudo isso é que ninguém trabalha, e os que trabalham, trabalham pouco.

No que diz respeito a reunificação da pátria, sua materialização só seria possível utilizando a base de “um país, dois sistemas”. O desenvolvimento da República Popular da China é indispensável para materializar a reunificação e não basta somente as declarações patrióticas, pois o melhor patriotismo é o desenvolvimento. Do mesmo modo, devido ao reconhecimento das diferenças do ponto de partida entre os territórios, se estabelece uma verdadeira autonomia durante mais ou menos 50 anos.

No terreno internacional se reafirma que a China nunca será uma superpotência independentemente de seu nivel de desenvolvimento. Se ratifica a coexistencia pacifica e se estabelece relações com outros estados e partidos, independentes de sua base ideológia, partindo do fato de que somente o povo de cada país pode decidir seu próprio caminho, afinal, somente cada povo e cada partido, em cada país, pode chegar a conhecer sua realidade social e possibilitar sua transformação. A origem dessa posição é o critério marxista de que, no geral, os fatores determinantes no desenvolvimento dos fenomenos são os fatores internos. Como consequencia, o conhecimento só pode ser adquirido mediante o contato permanente com a própria realidade social e a luta para transformá-la.

O valor real ou ficticio das autodefinições, só podem ser avaliadas pela prática social de cada movimento no próprio país e se servem ou não, ao desenvolvimento das forças produtivas no beneficio de cada povo sob o socialismo, ou a transformação social de mudança das classes no poder sob o capitalismo. Do mesmo modo, na política internacional, a imposição estrangeira pela força a outros povos, não pode ser justificada ou aprovadas em nome de uma ideologia, seja ela qual for.

REPERCURSÕES DA REVOLUÇÃO CULTURAL NA ESPANHA


A “revolução cultural” foi expressão do descontentamento com os revisionistas: a política de colaboração com a oligarquia, da direção do PCE, dirigido por Santiago Carrillo, que presupunha a reforma da ditadura do capital monopolista. Teve um forte impacto, ainda que minoritário, em um setor das fileiras comunistas na clandestinidade, provocando diversas fraçoes “pró-chinesas” no PCE (PCE (i), ORT) e o PCE (m-l) criado 2 anos antes do início da “revolução cultural”. Entre todos eles, o PCE (i) daria origem ao maior partido revolucionário europeu, que chegou a ter a maior influência entre as massas, o Partido do Trabalho da Espanha (PTE).

O PCE (i) chegou a tentar aplicar a “revolução cultural” chinesa no interior do partido na Espanha, exigindo a “proletarização” e “bolchevização” de seus militantes. Os camaradas de origem de classe pequeno-burguesa deveriam começar a trabalhar em fábricas pára se reeducarem e todos os militantes deveriam levar a cabo uma dedicação absoluta ao partido, doando todo seu tempo e dinheiro disponivel para o partido. Inclusive, se recomendava-exigía que não se tivessem filhos para dessa forma terem mais tempo e dinheiro para o partido. Porém, os chefes do Comitê Central tinham previlégios especiais e arbitrários e exerciam de fato uma ditadura fascista com os militantes de base. Posteriormente, o PTE que surgiu dele, a ORT, o PCE (r) e o PCE (m-l) romperam apenas em certa medida com esse funcionamento arbitrário, mas continuarem dependentes em relação a China, a Albânia ou a Romênia.

Quando a “revolução cultural” chinesa começa a chegar no fim, e se começa a Reforma e Abertura na China, todos esses partidos continuam cheios de prepotência, porém ficaram bloqueados ideologicamente. PTE y ORT, havendo criado “sindicatos assembléarios” de cada partido, chegam a ter uma certe influência, mas praticamente desaparecem devido ao sectarismo das diferentes organizações. Foram incapazes de fazerem uma analise concreta da realidade concreta da luta de classes na Espanha., dos movimentos de massas e seus ensinamentos e do verdadeiro caráter da reforma espanhola como continuação da ditadura monopolista do capital. Igualmente, foram incapazes de entender a diferença de tarefas entre o proletariado de um país socialista e de um país capitalista, confundindo a luta de classes com as relações entre estados de diferentes regimes sociais, pretendendo que os países socialistas tivessem obrigação de aplicar a luta de classes no “internacionalismo”. Essa idéia ganhou força com o papel beligerante e propagandistico de Cuba ao serviço do “ressurgimento” do falso “leninismo” de Brezhnev e seu falso internacionalismo, que máscarava intervenções e invasões de países estrangeiros.

No calor desta “nova” política do continuador de Kruschev, e já em plena “democracia espanhola” da ditadura monopolista do capital, surgem os partidos pró-soviéticos, cheios de dogmatismo no ideológico e de reformismo no político, PCPE, PCOE, PCC, PCE (r). O PCE (r) muda de lado, antes era maoísta e depois se transforma em pró-soviético. Nenhum deles estabelecem diferenças com os “revisionistas” e na prática da luta de classes, com exceção do PCE (r) que apóia supostas “ações guerrilheiras de resistência”, se limitam a servir de porta-vozes da URSS/Cuba e as vezes, conduzem violentos ataques contra o “revisionismo” dos chineses.

O PCE, principal torcedor pela reforma da ditadura monopolista do capital na Espanha, permanece atolado no reformismo, ao mesmo tempo, é o único que mantém uma linha coerentemente reformista, mantendo um relativo protagonismo entre a chamada “esquerda” constitucional.

CONCLUSÕES

A realidade atual demonstra vários aspectos importantes:

A política de Reforma e Abertura chinesa, retirou da miséria cerca de 500 milhões de pessoas em 30 anos, em um país com 23% da população mundial e somente 7% de terreno cultivavel. Tudo isso sem invasões a outros países e com uma política de igualdade e beneficiou mutuo, com todos os países, epecialmente com os do terceiro mundo. Pela primeira vez na história da humanidade, um país emerge com tal rapidez de maneira pacifica, apesar das continuas provocações externas tanto dos imperialistas, como dos “esquerdistas radicais” ou “comunistas” (na verdade anarco-trotskistas) estimulados de fato pelo imperialismo e sua permanente campanha anti-China, com seus meios totalitários de manipulação de massas no Ocidente.

A derrota da “revolução cultural” significa a derrota da ideologia feudal na China e a recuperação do marxismo, elevando-o e desenvolvendo-o a um nível superior.

As etapas históricas, sociedades primitivas, feudalismo, capitalismo, socialismo e comunismo se sucedem, não podendo ser ignoradas.

A maior contribuição ao internacionalismo hoje é o desenvolvimento socialista de ¼ da população mundia, frente a um panorama de recessão do capitalismo internacional.

Na prática, cada vez mais, a China se converte na referencia principal da luta pela emancipação no terceiro mundo e nos países socialistas. Porém, a China não pretende guiar os demais países, nem dizer aos demais o que devem fazer. Alguns países socialistas também tiveram que retificar suas anteriores políticas, para tentarem superar a estagnação e eliminar seus graves ataques à República Popular da China.

Da mesma maneira que na luta de classes existe uma vanguarda comunista, e esta não podem deixar esperar que o conjunto das massas adquiram espontaneamente o nível ideológico, político e organizativo do partido, na construção economica socialista é necessário que a vanguarda dos mais esforçados e abnegagos trabalhadores abram uma brecha no desenvolvimento material e alcancem, antes que o resto, servido de exemplo, sua elevação profissional e produtiva e, portanto, seu bem-estar economico.
A maturidade de uma ideologia é como a das pessoas. Se adquire com o sucessivo conhecimento de analises da prática, que é viva e se transforma, especialmente, tirando lições dos fracassos.

Com respeito a Espanha:

Permanecem as sequelas das posições, ou do reformismo pró-monopolista, ou do dogmatismo reformista no movimento comunista. É o domínio das declarações, para justificar a ausência de uma analise concreta da realidade concreta e o compromisso prático para lutar contra os problemas das massas e transformar o movimento. Há alguma tentativa (PCOE) para, a partir dos problemas do povo, construir “movimento de massas” organicamente controlados pelo partido, repetindo os velhos erros de arrogância e burocratismo do PCE (m-l), PTE e ORT.

Isso ocorre pelo seu temor a realizar uma analise rigora do passado, pois isso os obrigaria a fazer uma autocrítica consequente, que ainda não estão dispostos a fazer. Isso faz com que eles não analisem as experiências tanto positiva, como negativa da luta de classes na Espanha, pelos grupos proclamados comunistas e também pelas massas.

O internacionalismo, ou melhor dizendo, a exigência de “internacionalismo” por parte da China, se converteu em álibe para não se enfrentar o inimigo monopolista na Espanha, e sim enfrentar, de uma maneira ou de outra, a China. O estado monopolista promove esse tipo de atividade a fim de desviar os “comunistas” do problema principal. O estado monopolista está muito interessado que as massas sigam relacionando o comunismo com a miséria, a arbitrariedade e o culto fanático e divino ao “grande líder” e o capialismo com o desenvolvimento e a democracia. Não se entende ainda que o internacionalista não é aquele que pede, mas sim aquele que contribui concretamente.

Tanto as idéias erroenas da “revolução cultural”, e também as da URSS de Brezhnev, como as de apoio a ditadura do estado monoponilista, chamada de “democracia”, seguem impedindo o surgimento da vanguarda comunista. É fato de que cada povo e cada partido deve realizar sua própria reflexão crítica e autocrítica, derrubando o muro criado, que impede a analisar o passado e o presente, porque sem isso não se pode estabelecer uma estratégia política nem organizativa acertada em nosso próprio país. É uma enorme responsabilidade ainda não assumida de forma consequente. Na realidade, o temor de se abordar criticamente o passado e aplicar suas liçlões no presente, é uma consequência ideológica do silêncio imposto pelo consenso do esquecimento sobre o franquismo.

Aprender das lições que nos oferecem o fracasso da “revolução cultural” não significa aplicar em outro país o caminho adotado pela China, mas sim compreender a realidade atual do desenvolvimento do marxismo, apoiar os países socialistas respeitando suas características e a diversidade entre os diferentes países em função de seu desenvolvimento economico, social e político. Isso reafirma a necessidade de cada povo contar com seus próprios esforços, sem esperar que um acontecimento exterior os liberte. Essa é outro fardo que temos que superar na Espanha, onde desde seu inicio, em 1921, o movimento comunista confiou no exterior, primeiro para tomar o poder ganhando a guerra com a ajuda soviética, depois para derrotar o franquismo (depois da vitória soviética na II Guerra Mundial) e agora para serem libertados por uma suposta “internacional”.


José Maria Rodríguez

Tradução - Gabriel Martinez

* O texto publicado não reflete necessariamente a opinião do Blog.

Um comentário:

  1. Grande texto, poucos conseguem analisar de maneira tão profunda o complexo histórico político chinês das últimas décadas.

    O blog e o autor estão de parabéns

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